Data do ano 868 de nossa era o primeiro exemplo de livro impresso na China, usando caracteres entalhados em madeira. O sistema deu tão certo que, ao longo dos séculos, os chineses se puseram a refiná-lo com a invenção dos tipos móveis, equivalentes aos vários sinais ideográficas da escrita do país, que podiam ser trocados à vontade na prensa. No século 15, o alemão Gutemberg usaria tipos móveis para dar início ao uso maciço da imprensa no Ocidente.
A técnica de fabrico do papel, inventada na China há cerca de 2000 anos, tem sido amplamente utilizada em todas as nações do mundo. Esta técnica, juntamente com a bússola, a pólvora e a impressão, são consideradas as quatro grandes invenções da Antiga China.
Antes da sua invenção, eram usados para a escrita materiais raros, como carapaça de tartaruga, ossos de animais ou bronze. No entanto, devido à sua escassez, estes eram exclusivamente reservados aos imperadores e aristocratas. Posteriormente, os antigos chineses começaram a escrever em pedaços de bambu tratado, conhecidos como “tabuinhas de bambu”. Embora fosse mais fácil ter acesso ao bambu, o número de carateres que podiam ser escritos era limitado. Se se quiser transcrever integralmente a obra Os Anais (uma crónica da China Antiga), de Sima Qian, nessas tabuinhas, serão necessários mais de dez mil pedaços de bambu, que poderão pesar até 50 quilos e ocuparão uma sala inteira, o que é extremamente inconveniente.
Também a seda, por sua vez, leve e suave, era um bom material para a escrita, mas era muito dispendiosa.
A técnica de produzir papel nasceu na China. Durante a dinastia Han Ocidental (202 a.C.-25 d.C.), as pessoas já dominavam os métodos básicos do fabrico de papel, mas devido à qualidade inferior e à produtividade limitada, o papel não dava para substituir as tabuinhas de bambu e a seda. À chegada da Dinastia Han Oriental (25-220 d.C.), Cai Lun, um funcionário da corte imperial, havia feito um balanço das experiências do fabrico do papel do período Han Ocidental e, após inúmeras tentativas, conseguira produzir um papel de alta qualidade com baixo custo a partir de materiais como casca de amoreira, fibra de bambu, retalhos de tecido e redes de pesca velhas. No ano 105 d.C., o imperador He, da Dinastia Han, ordenou a divulgação do uso do papel em todo o país, fazendo com que o papel se tornasse o material mais comum para a escrita.
O aparecimento do papel promove a difusão e herança cultural chinesas. As propriedades físicas do papel, como a leveza e a resistência à decomposição, permitem a facilidade da conservação, reprodução e divulgação dos clássicos chineses, como os Analectos. Além disso, a natureza suave do papel é ideal para a escrita com o pincel, que é fundamental para a caligrafia e pintura tradicional chinesas.
Durante a Dinastia Tang (61-907 d.C.), surgiu o papel tingido, específico para escrever poemas. A poetisa Xue Tao extraiu corantes das flores e cascas da rosa-louca (Hibiscus mutabilis) para tingir o papel de vermelho, e recortou-o em formatos padronizados. Este tipo de papel, bonito e propício para a escrita dos poemas e cartas, tornou-se muito popular entre os literatos e aristocratas.
No período Song e Yuan (960- 1368 d.C.), o papel era usado até para as artes cénicas. Os artistas recortavam personagens de cartão e, com o auxílio da luz, as suas imagens eram projetadas em telas de papel. Este tipo de espetáculos ainda hoje é designado por Teatro de Sombras.
Após a inovação da técnica de fabricação de papel por Cai Lun, o papel chinês espalhou-se rapidamente para as regiões ocidentais. No entanto, foi durante a Dinastia Tang que a técnica se difundiu para o Ocidente. No ano 751 d.C., uns artesãos fabricantes de papel do Exército de Tang, capturados pelas forças do Império Árabe, começaram a transmitir aos árabes a técnica de fabrico do papel. Daí, a técnica foi divulgada para o mundo árabe, chegando a Samarcanda, Bagdad e Damasco os três principais centros da fabricação de papel. No século X, foi levada pelos árabes para Espanha através de Marrocos, e chegou a outros países europeus, como França, Itália, Alemanha e Portugal nos séculos XII e XV.
Prof. Luiz Carlos Akira